domingo, 19 de junho de 2011

Atira a primeira flor


Quando tudo parecer estar a caminhar de forma errada,
sê tu próprio a tentar o primeiro passo certo;
Se tudo parecer escuro, e nada puder ser visto, acende a primeira luz,
traz primeiro para as trevas, a pequena lâmpada;

Quando todos estiverem a chorar, tenta dar o primeiro sorriso;
talvez não na forma de lábios sorridentes, mas na de um coração que
compreenda, e com braços que confortem;

Se a vida inteira for um imenso não, não pares na busca do primeiro
sim, ao qual tudo de positivo deverá seguir-se;

Quando ninguém souber coisa alguma, e tu souberes um pouquinho,
sê o primeiro a ensinar, começando por aprender por ti mesmo,
corrigir-te;

Quando alguém estiver angustiado à procura, consulta bem o que se passa,
talvez seja em busca de ti mesmo que este teu irmão está;
Daí, portanto, o teu deve ser o primeiro a aparecer, o primeiro a mostrar-se, o
primeiro que pode ser o único e, mais sério ainda, talvez o último;

Quando a terra estiver seca, que a tua mão seja a primeira a regá-la;
quando a flor se sufocar na urze e no espinho,
que a tua mão seja a primeira a separar o joio, a arrancar a praga,
a afagar a pétala, a acariciar a flor;

Se a porta estiver fechada, que de ti venha a primeira chave;
Se o vento sopra frio, que o calor da tua lareira seja a primeira proteção e oprimeiro abrigo.
Se o pão for apenas massa e não estiver cozido,
Sê o primeiro forno para transformá-lo em alimento.

Não atires a primeira pedra em quem erra.

De acusadores o está o mundo cheio; nem, por outro lado, aplaudas o erro;
dentro de
 pouco, a ovação será ensurdecedora;
Oferece a tua mão primeiro para levantar quem caiu;
a tua atenção primeiro para aquele que foi esquecido;

Sê o primeiro para aquele que não tem ninguém;
Quando tudo for espinhos, atira a primeira flor;

Sê o primeiro a mostrar que há caminho de volta,
compreendendo que o perdão regenera,
que a compreensão edifica, que o auxílio possibilita,
que o entendimento reconstrói.

Atira quando tudo for pedra,
a primeira e decisiva flor.

(Glácia Daibert)

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