sábado, 17 de março de 2012

SENTE... Não penses.



Estás sentado no jardim, o tráfego está a passar e há muito barulho e muitos sons. Tu apenas fecha os olhos e tentas encontrar o som mais subtil que existe ao teu redor.

Um corvo está a grasnar: apenas concentra-te no ruído do corvo. Todo o barulho do tráfego continua. O som é tal, é tão subtil, que não podes ficar cônscio dele a menos que tu foques a tua consciência nele. Mas se tu focares a tua consciência, todo o barulho do tráfego irá sumir e o ruído do corvo tornar-se-á o centro. E tu irás ouvi-lo, todas as nuances dele – muito sutil, mas serás capaz de ouvi-lo.
Cresce em sensibilidade. Quando tocas em algo, quando ouves, quando comes. Quando tomas banho, permite os teus sentidos ficarem abertos. E não penses – sente.
Estás de pé debaixo do chuveiro: sinte a frescura da água a cair sobre ti. Não penses sobre isso. Não vás logo a dizer, “Está muito fresco. Está frio. Está bom assim”. Não digas nada. Não verbalizes, porque na hora que verbalizas, tu perdes o sentimento. Na hora que as palavras chegam, a mente começou a funcionar. Não verbalizes. Sente a frescura, mas não digas que está fresco.
Continuamos a dizer coisas, nem mesmo conscientes do que estamos a dizer. Pára de verbalizar; só então podes aprofundar os teus sentimentos. Se os sentimentos forem aprofundados, então esta técnica pode fazer milagres em ti.
Sente: o meu pensamento
Fecha os teus olhos e sente o pensamento. Uma corrente contínua de pensamentos está lá, num continuum, num fluxo; um rio de pensamentos está a fluir. Sente esses pensamentos, sente a presença deles. E quanto mais tu sentires, mais te será revelado – camadas sobre camadas. Não somente pensamentos que estão à superfície; por trás deles existem mais pensamentos, e atrás destes existem ainda mais pensamentos – camadas sobre camadas.

E a técnica diz Sente: o meu pensamento. E prosseguimos a dizer, “Estes são meus pensamentos”. Mas sente – são eles realmente meus? Podes dizer “meu”? Quanto mais sentes, será menos possível para ti dizeres que eles são teus. Todos eles são emprestados, todos eles provêm do exterior. Eles chegaram até ti, mas eles não são teus.
Nenhum pensamento é teu – apenas pó acumulado. Mesmo se tu não puderes reconhecer a fonte de onde esse pensamento chegou até ti, nenhum pensamento é teu. Se tu tentares duramente, tu podes descobrir de onde esse pensamento chegou até ti.
Só o silencio interior é teu. Ninguém to deu. Tu nasceste com ele, e irás morrer com ele. Pensamentos foram-te dados; tu foste condicionado a eles. Se fores um hindu, tens um tipo diferente, um conjunto diferente de pensamentos; se fores um maometano, é claro, um conjunto diferente de pensamentos; se fores um comunista, novamente um conjunto diferente de pensamentos. Eles foram-te dados, ou simplemente podes tê-los pegado voluntariamente, mas nenhum pensamento é teu.

Se os pensamentos não são meus então nada importa, porque isso também é um pensamento – que és a minha esposa, ou tu és o meu marido. Isso também é um pensamento. E se basicamente o pensamento em si mesmo não é meu, então como o marido pode ser meu? Ou como pode a esposa ser minha?
Pensamentos desenraizados, o mundo inteiro é desenraizado.
Assim tu podes viver no mundo e não viver nele.

Osho, em "The Book of Secrets" Imagem por TheAlieness GiselaGiardino²³

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