terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Nós, os Índios


Nós os índios,
conhecemos o silêncio.
Não temos medo dele.
Na verdade,
para nós ele é mais poderoso
do que as palavras.
Os nossos ancestrais foram educados
nas maneiras do silêncio e eles
transmitiram-nos esse conhecimento.
"Observa, escuta, e logo actua", diziam-nos.
Esta é a maneira correcta de viver.

Observa os animais para ver
como cuidam dos seus filhotes.
Observa os anciões para ver
como se comportam.
Observa o homem branco para ver
o que querem.
Observa sempre primeiro,
com o coração e a mente quietos,
e então aprenderás.
 Quanto tiveres observado o suficiente,
então poderás actuar.

Com vocês, brancos e pretos, é o contrário.
Vocês aprendem falando.
Dão prémios às crianças
que falam mais na escola.
Nas suas festas, todos tratam de falar.
No trabalho estão sempre a ter reuniões
nas quais todos interrompem a todos,
e todos falam cinco, dez, cem vezes.
E chamam isso de "resolver um problema".
Quando estão numa habitação e há silêncio,
ficam nervosos.
Precisam de preencher o espaço com sons.
Então, falam compulsivamente,
mesmo antes de saber o que vão dizer.

Vocês gostam de discutir.
Nem sequer permitem que
o outro termine uma frase.
Interrompem sempre.
 Para nós isso é muito desrespeitoso
e muito estúpido, inclusivé.
Se começas a falar,
eu não te vou interromper.
Eu escutar-te-ei.
Talvez deixe de te escutar
se não gostar do que estás a dizer.
Mas não vou interromper-te.
 Quando terminares, tomarei minha decisão
sobre o que disseste,
mas não te direi se não estou de acordo,
a menos que seja importante.
 Do contrário,
simplesmente ficarei calado e afastar-me-ei.
Terás dito o que preciso saber.
Não há mais nada a dizer.
Mas isso não é suficiente
para a maioria de vocês.

Deveríamos pensar nas palavras
como se fossem sementes.
Deveriam plantá-las,
e permiti-las crescer em silêncio.
Os nossos ancestrais ensinaram-nos que
a terra está sempre a falar connosco,
e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.

Existem muitas vozes além das nossas.
Muitas vozes.
 Só vamos escutá-las em silêncio.


Texto traduzido por Leela, Porto Alegre:
"Neither Wolf nor Dog. On Forgotten Roads with an Indian Elder" - Kent Nerburn

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